sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

O professor de alto valor acrescentado


Os estudos mostram que há características comuns aos professores de qualidade que têm um impacto grande no aproveitamento escolar dos alunos e esse impacto do professor é tanto maior quanto menor é o nível socioeconómico dos alunos.

Desde a publicação do Coleman Report, há 50 anos, que os estudos vêm confirmando sucessivamente essa relação. Importa, por isso, saber quais são as características que fazem um professor de qualidade. Os estudos mostram que são, sobretudo, as competências verbais, o background educacional e a posse de “soft skills” que mais influência têm na melhoria do aproveitamento escolar dos alunos.

Os professores que sabem comunicar bem, que são resilientes, que envolvem eficazmente os encarregados de educação no processo educativo dos educandos, que mostram possuir elevados níveis de motivação e expetativas otimistas e realistas são os que mais se identificam com o perfil do professor de qualidade (Hanushek, E.A. (1971).

O professor de qualidade possui um conjunto de características que o distinguem do professor mediano e são essas características que fazem a diferença (Hanuseck, E. A., Kein, J. F., O`Brien. D. M. e Rivkin, S. G., 2005: 1): “Value-added modeling (VAM) to estimate school and teacher effects is currently of considerable interest to researchers and policymakers. Recent reports suggest that VAM demonstrates the importance of teachers as a source of variance in student outcomes. Policymakers see VAM as a possible component of education reform through improved teacher evaluations or as part of test-based accountability. They are intrigued by VAM because of the view that its complex statistical techniques can provide estimates of the effects of teachers and schools that are not distorted by the powerful effects of such noneducational factors as family background”.   

Se conseguirmos identificar com precisão aa características que distinguem o professor de qualidade do professor mediano, torna-se mais fácil agir no sentido de promover essas características nos professores que as não têm a aprofundá-las nos professores que as têm. Uma parte dessa intervenção centra-se na redefinição dos programas de formação inicial e contínua. Outra parte centra-se no reconhecimento do mérito criando mecanismos que acelerem a carreira dos professores que, de forma persistente e continuada, se encaixam no perfil do professor de qualidade.

A literatura sobre o valor acrescentado do professor qualidade aponta para se reconheça os resultados dos alunos em provas nacionais e internacionais como o fator que melhor contribui para avaliar o desempenho do professor. É o fator mais objetivo, mas simples de trabalhar e mais rigoroso se concordarmos que o professor de qualidade é aquele que faz os alunos aprender, sobretudo os que chegam à escola com algum tipo de desvantagem económica, social ou cultural.

O professor de qualidade é o professor que gera valor acrescentado na aprendizagem dos alunos (Mcaffrey, D. E., Lockwood, J. R., Koretz, D. M. e Hamilton,. L., 2001).  A construção de um perfil do professor de qualidade exige a definição de instrumentos capazes de medir esse valor acrescentado (Sanders, W. e Horn, Sandra (1994). A importância da definição do perfil de competências do professor de qualidade reside no facto de ser possível intervir no sentido da aquisição dessas competências por parte dos professores que as não possuem e do reforço e aprofundamento dessas competências por parte dos professores que as não têm.

Os modelos que visam medir o valor acrescentado do professor, isto é o impacto na aprendizagem provocado pelas características do professor – o valor que o professor acrescenta para além das capacidades do aluno, características da escola e ambiente familiar – permitem comparar o desempenho dos professores dentro da própria escola e entre escolas e constituem ferramentas importantes para avaliação do desempenho docente, a partir da qual se podem construir programas de formação focados no desenvolvimento de competências em falta. Essa avaliação é importante sobretudo porque a literatura científica reconhece o impacto que um professor de qualidade tem no aproveitamento escolar dos alunos e esse impacto pode medir-se a partir dos resultados dos alunos em provas nacionais e internacionais e a sua evolução ao longo do tempo. Professores de qualidade partilham certas características: capacidade de comunicação escrita e oral – os chamados “verbal skills”, expetativas elevadas mas realistas, motivação e resiliência. Ao invés, os professores com desempenho abaixo da média caracterizam-se pela falta destas características. Mais importante ainda: a literatura mostra que a variável “professor de qualidade” é a que mais impacto tem nos resultados escolares dos alunos. É verdade que há outros fatores, externos ao professor, com impacto nos resultados mas esses fatores estão habitualmente fora do nosso controlo: nível socioeconómico dos alunos, capacidades cognitivas dos alunos e ambiente familiar, por exemplo.

É interessante verificar que a literatura científica mostra que os professores de qualidade são identificados pela sua “performance” e não pela experiência passada ou pelos graus académicos (Hanushek, E. e  Rivkin, S., 2010) . Outro aspeto interessante que a literatura nos indica é que os professores de qualidade mantêm a sua eficácia e “performance” mesmo quando mudam de escola (McCaffrey, JR Lockwood, DM Koretz, LS Hamilton, 2003).

Dito isto, percebe-se melhor da importância da construção de um instrumento, devidamente validado, que permita identificar as características presentes e ausentes nos professores. Esse instrumento pode ser útil quer para empregadores e diretores de estabelecimentos de ensino quer para os próprios docentes que verão nele um instrumento de autoavaliação. 

Claro está que a marioneta da Fenprof que ocupa a 5 de Outubro está a milhas de distância de tudo isto, seguindo aliás a filosofia e a prática da canalha social comunista que abomina tudo que seja o reconhecimento do mérito.

Bibliografia
Eric A. Hanushek and Steven G. Rivkin (2010).  Generalizations about Using Value-Added Measures of Teacher Quality. Washington: The American Economic Review. American Economic Foundation
McCaffrey, JR Lockwood, DM Koretz, LS Hamilton (2003) Evaluating Value-Added Models for Teacher Accountability.  Monograph. ERIC
Koedel, C. e Betts. J. (2009).Does Student Sorting Invalidate Value-Added Models of Teacher Effectiveness? An Extended Analysis of the Rothstein Critique
McCaffrey, Daniel F.; Lockwood, J. R.; Koretz, Daniel M.; Hamilton, Laura S. (2001).  Evaluating Value-Added Models for Teacher Accountability. Monograph. RAND Corporation
Sanders, W. e Horn, Sandra (1994). “The Tenesse Value Added Assessment System: Mixed Model Methodology in Educational Assessment”. In Journal of Personal Evaluation in Education 8, 299-311
Hanushek, E.A. (1971). “Teacher characteristics and gains in student achievement: Estimation using microdata”. American Economic Review 60 (2), 280–288.
Hanushek, E.A. (1979). “Conceptual and empirical issues in the estimation of educational production functions”.Journal of Human Resources 14 (3), 351–388.
Hanushek, E.A. (1992). “The trade-off between child quantity and quality”. Journal of Political Economy 100(1), 84–117.
Hanushek, E.A. (1997). “Assessing the effects of school resources on student performance: An update”. Educational Evaluation and Policy Analysis 19 (2), 141–164.
Hanushek, E.A. (1999). “Some findings from an independent investigation of the Tennessee STAR experimente and from other investigations of class size effects”. Educational Evaluation and Policy Analysis 21 (2), 143–163.
Hanushek, E.A. (2003). “The failure of input-based schooling policies”. Economic Journal 113 (485), F64–F98.
Hanushek, E.A., Kain, J.F., O’Brien, D.M., Rivkin, S.G. (2005).. “The market for teacher quality”. Working Paper 11154. National Bureau of Economic Research, Cambridge, MA (February).
Hanushek, E.A., Kain, J.F., Rivkin, S.G. (2004). “Why public schools lose teachers”. Journal of Human Resources 39 (2), 326–354.
Hanushek, E.A., Luque, J.A. (2000). “Smaller classes, lower salaries? The effects of class size on teacher labor markets”. In: Laine, S.W.M., Ward, J.G. (Eds.), Using what We Know: A Review of the Research on Implementing Class-Size Reduction Initiatives for State and Local Policymakers. North Central Regional Educational Laboratory, Oak Brook, IL, pp. 35–51.
Hanushek, E.A., Pace, R.R. (1995). “Who chooses to teach (and why)?”. Economics of Education Review 1 (2), 101–117.
Hanushek, E.A., Rivkin, S.G. (1997). “Understanding the twentieth-century growth in U.S. school spending”. Journal of Human Resources 32 (1), 35–68.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Agora que decidiu juntar-se a este grupo de conversação e debate sobre educação realista, resta-me agradecer a sua colaboração. Aqui dá-se luta ao socialismo.